O engenho mal-assombrado.
Quando bate a meia-noite, o velho engenho em ruínas, há muito tempo abandonado, começa a se agitar. Do seu interior surgem vultos fantásticos.
O primeiro a aparecer é o senhor de engenho, de chapéu de abas largas, botas com esporas e chicote na mão, que grita:
- Vamos! É hora de serviço! Comecem a trabalhar!
Então, tudo se movimenta, As velhas almanjarras se põem a rodar. E os moleques, empoleirados no alto das maquinas, berram, açoitando as bestas que puxam as rodas.
Apesar de azeitadas, as engrenagens do engenho rangem sem cassar. E as canas, esmagadas entre os cilindros das moendas, estalam, fazendo: craque, craque, craque.
Os escravos trabalham sem descanso, com o suor escorrendo pelas costas nuas. O tombador de canas faz o seu serviço, entoando uma cantiga alegre. P carregador de bagaços passa, a cada instante, levando nos braços, feixes alvos de canas espremidas. E o caldo verde e espumoso escorre aos borbotões pelas bicas. Parece uma cascata de esmeralda liquida!
Os escravos alimentam, incessantemente, as bocas rubras das fornalhas. O fogo crepita debaixo das caldeiras, que gemem e chiam como se fossem vivas. A fumaça sobe pela chaminé. As tachas fervem. E o cheiro gostoso do mel cozido invade todo o engenho.
De fora, vem o rechinado plangente dos carros de bois, trazendo canas para o engenho. Cambiteiros estalam chicotes, tangendo burros também carregados de cana. Moleques de olhos vivos e movimentos ágeis pulam na frente dos animais. Tudo Palpita dentro e em redor do velho engenho, que trabalha sem cessar.
Mas, quando os galos começam a cantar, o ruído das máquinas e o clamor das vozes começam a diminuir pouco a pouco, as luzes se apagam, os movimento vão se tornando mais lentos e os rumores perdem a intensidade. Os homens e os animais vão ficando sem vida sem cor e se transformam em sombras, cada vez mais esbatidas.
E, quando clareia o dia, o velho engenho volta a ser um montão de ruínas, abandonado e silencioso...
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